terça-feira, 3 de novembro de 2009

HISTÓRICO CEMITÉRIO DOS BEXIGUENTOS


Em uma localidade chamada “LAGOA DO FUNDÃO”, neste município, ponto turístico da cidade, aconteceu um fato curioso, há aproximadamente 100 anos, onde uma família composta de pai, mãe, uma senhora (supostamente irmã de D. Carmelita) e uma criança e ainda um empregado que morava ali, foram sepultados em um cemitério construído por eles mesmos, onde futuramente seriam inevitavelmente enterrados, pois se tratava de um isolamento por motivo de uma doença contagiosa, a varíola, doença, febre da bexiga, diziam antigamente.
Conta a história o Sr. José Ramos da Silva Filho, que seu pai José Ramos da Silva e sua mãe Sra. Maria Rosa de Jesus, moravam no sítio, onde está localizado o cemitério. Sua mãe, a Sra. Rosa de Jesus herdou o sítio e as terras com a morte de sua mãe Carmelita Rosa de Jesus.
Segundo o Sr. José Ramos, conhecido José Raminho, estão enterrados no Cemitério: o Sr. Francisco Hilarino de Jesus, a Senhora Carmelita Rosa de Jesus, mais duas pessoas da família e um empregado que vivia ali.
Ainda, segundo o Sr. José Raminho, que nasceu, cresceu e mora ali até hoje, com 77 anos, a história que ele conhece é que sua mãe contava que a família toda foi criada ali, que seus avós tiveram uma doença contagiosa, foram enterrados e ninguém podia ter contato, que quando criança ele e seus irmãos visitavam o lugar, ficavam à distância com medo do contágio e que se casou com D. Luzia Souto da Silva, vivendo ali, criou seus 06 filhos e 06 netos. D. Luzia por sua vez, tomou conhecimento da história repassou aos filhos e sempre fazia suas visitas, sempre acompanhada do marido e filhos, faziam capinas, orações, colocava flores, ascendia velas, mas sempre mantendo a distância do túmulo.
Ainda fazendo parte da história, encontramos a Sra. Hilda dos Santos, neta de D. Carmelita, filha de Franklin José dos Santos e Francisca Maria de Jesus (filha de D. Carmelita) que contou ter conhecimento desta história, ter crescido e vivido com a lembrança da mãe contar que também teve a doença, porém não morava mais lá no lugar, havia se casado e mudou-se para próximo do município. A mãe contava que a família foi a um casamento, naquela época, andavam era de carro de boi e quando chegaram tiveram uma febre e começaram a brotar as feridas. Na época, não havia nem remédio, nem médicos. D Hilda contou que o Sr. Henrique Braga, então farmacêutico da época, criou um código com a família. Por eles terem que ficar isolados, escreviam em um papel as necessidades, contava o que estavam sentindo,colocavam o papel dentro de uma capanga, que era colocada todas as manhãs na porteira na frente do sítio, passava uma pessoa da cidade recolhia a capanga entregava para o Sr. Henrique que tomava as providências e mandava de volta a capanga que era colocada no mesmo lugar e recolhida à tarde por alguém da família.Esse fato aconteceu por muitas vezes, até o falecimento de todos que estavam ali.
D.Hilda contou ainda que a mãe ficou com marcas da varíola por todo o corpo, porém morreu em 07 de setembro de 1992 com problemas do coração. Disse que a sua mãe cuidou da varíola com um procedimento estranho, ela apanhava um espinho da laranjeira, desinfetava com álcool e estourava as feridas até elas secarem. Segundo ela, a mãe e toda família sofreram muito.
D. Hilda relatou que ela e seus 05 irmãos cresceram sabendo desta história e que todos visitavam o cemitério, levavam flores, acendiam velas, porém não podiam chegar próximo ao túmulo. Disse ainda, que seu irmão, o José dos Santos, o Lelé, conhecidíssimo de todos os formiguenses era o que mais gostava de ir lá, adorava sair escondido , passava pelo rio, caía na água , ia pelo caminho cantando, apanhando flores para colocar no túmulo da avó, fazia suas orações, brincava por ali, longe do túmulo, pois sabia que não podia chegar próximo, depois voltava pelo mesmo caminho, ele se divertia muito, foram muitos anos assim, disse D. Hilda.
D.Carmelita teve 07 filhos que sobreviveram à doença, mas que hoje estão mortos, restando apenas netos como o Sr. José Ramos da Silva Filho, suas irmãs Silva Maria da Silva, Divina Ramos da Silva, filhos de D. Rosa e Hilda dos Santos e sua irmã Ana Marta dos Santos, filhas de Francisca.
Segundo os primos, Hilda e José Ramos, a história foi de muito sofrimento para eles, pois cresceram sabendo da triste e sofrida vida de seus antepassados e ainda por muitos anos tiveram medo do contágio.
Hoje, ficam felizes de saber da preocupação da administração em resgatar a história, em preservar o lugar, melhorando as condições do espaço físico, conservando sua estrutura e acima de tudo registrando na história de Formiga fatos importantes de nossas famílias.
Assim, com apoio da administração Aluisio Veloso, prefeito e João Carlos Vespúcio, chefe da Funerária e Cemitérios Municipais, está resguardada a história do Cemitério dos Bexiguentos.

História - João Carlos Vespúcio

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